Quer mais leituras?
VoltarUm casarão de afeto em formato audiovisual
Por Luciana Medeiros, do Holofote Virtual
Imagens: Victória Sampaio
Em tempos de pandemia nunca fomos tão internautas, nunca aprendemos tanto sobre fazer vídeos fáceis ou não para a internet e nunca vimos uma quantidade tão grande de linguagens artísticas ganhando formato audiovisual. Até a dramaturgia passou a dialogar com a dos planos de filmagem e outros experimentos criativos, como, por exemplo, o “ama Zonas de nós”, produto cênico audiovisual do coletivo Casarão do Boneco, lançado na semana passa, com 43 minutos, disponível no canal de YouTube. O projeto recebeu apoio do edital de teatro da Lei Aldir Blanc, Secult-PA.
Para quem se interessa por processos criativos, no canal de YouTube do coletivo Casarão do Boneco, pode ser visto, ainda, desse mesmo projeto, outro conteúdo, com a gravação do encontro dos artistas envolvidos no projeto, com o público. Nesse bate papo, os participantes falaram de suas percepções sobre o trabalho e deixaram seus depoimentos, como o da Ana Flávia Mendes, que é da família que vendeu o casarão construído no século XIX, situado na Av. 16 de Novembro, para a Cia In Bust Teatro do Boneco, a primeira das companhias e coletivos de teatro a ocupá-lo, como sede, em 2004.
É possível conhecer também um pouco mais sobre essa história de ocupação artística desse casarão. Era para ser somente a sede da In Bust, mas com o tempo ele acabou se abrindo para a cidade, ao público e, por fim, a diversos outros coletivos e grupos de teatro que hoje são os chamados casarônicos, os habitantes do casarão. O novo trabalho do coletivo Casarão do Boneco revela as zonas de afeto deles com cada um dos ambientes desse casarão, mas como foi traduzir tudo isso por meio do audiovisual?
Teatro e Audiovisual
O “ama Zonas de nós” é construído pela dramaturgia de sete cenas que não se interligam por diálogos e nem dão continuidade a uma história de começo, meio, fim. É um experimento, com 13 artistas envolvidos, contando com atores e técnicos. Agendas difíceis, processos com lockdown, tudo isso fez parte. Os dias de filmagem foram então agendados individualmente, mas nem tudo teve ensaio. Para cada cena, levou-se em média, seis horas de trabalho que resultaram em planos, enquadramentos e câmera na mão, que traduziram as emoções das cenas e dos atores.
A direção de fotografia coube a Victoria Sampaio. Bacharel em Artes Visuais, ela atua como designer, fotógrafa, DJ e agora videomaker. Ela explica que o processo de criação para o vídeo teve diversos contratempos e muita coisa precisou ser pensada na hora da gravação.
“Tentamos fazer um ensaio geral, com experimentação técnica com cada uma das cenas e atores, depois que eles já tivessem desenvolvido um roteiro, mas não deu para fazer isso com todos, então tivemos que construir muita coisa já no dia da gravação”, diz. “Eu tentei meio que me adaptar a cada ator em cena, de forma que pudesse passar na fotografia o que eles queria dizer com suas performances. Fui testando coisas, movimentos, planos, luz e sombra”, complementa ela, que contou ainda com a assistência de Victor Peixe.
O clima é mágico e de afeto, ressaltado pela luz, trilha, encenação e fotografia. A montagem assinada por Lucas Alberto, da Cia Sorteio de Contos, integrante do Casarão do Boneco, desde 2015, une as sete cenas distintas. A presença de objetos em mais de uma cena, além da estrutura ritualística de cada cena, dão personalidade a esse resultado.
“A equipe de filmagem se aventurou em um mar de experiências guiadas pelas inspirações dos intérpretes criadores. A carga recolhida nesta embarcação foi o material para tecer as histórias contadas. Obviamente de conteúdo heterogêneo que no seu inconsciente se interligam”, diz Lucas.
Já Cincinato Marques, músico, professor de geografia e eterno brincante, atuou no som do documentário, em todas as suas vertentes. Do som direto, à trilha, até a sonoplastia. “Foi uma experiência nova pra mim, o processo foi muito rico. Construí a trilha a partir das conversas que tive com cada um dos fazedores da cena, para saber de sua dramaturgia e, a partir daí, fui criando algumas questões”, diz ele, que está no coletivo desde 2015, quando foi convocado para fazer assistência de produção no projeto “De Bubuia pelo rio Amazonas”.
Veja e saiba mais!
Canal de YouTube:
“ama Zonas de nós” + “Encontro de Compartilhamento”
Acompanhe o coletivo:
@casaraodoboneco
https://www.facebook.com/casaraodoboneco